Cólica do bebê

Quando um bebê chora os cuidadores já pensam que pode ser cólica. É importante saber que o choro é a primeira forma de comunicação do bebê e ele pode chorar por diversos motivos como fralda suja, calor, frio, nariz obstruído, sono, quer atenção e etc. Por isso a importância de observar o comportamento dos bebês, pois no mesmo dia pode chorar por diferentes motivos.

cólica do bebê

O que é a cólica do bebê?

A cólica infantil é caracterizada por choro inconsolável, agitação e irritabilidade em um recém-nascido saudável durante os primeiros três a cinco meses de vida. Pode apresentar com estiramento das pernas, tensão do corpo, rubor facial, evacuações dolorosas e meteorismo (inchaço abdominal). 

É importante dizer que a maioria das queixas dos pais não encaixam dentro dos critérios de diagnóstico de cólica, porém trazem muito desconforto para os bebês e preocupações por parte dos cuidadores como por exemplo excesso de gases, gases fétidos ou desconforto antes de evacuar (disquezia).

O diagnóstico é clínico, e os principais critérios diagnósticos estão descritos abaixo.

Critério de Wessel

Paroxismo de irritabilidade, agitação ou choro em um bebê saudável de mais de 2 semanas que:

  • Dura mais de 3 horas no dia;
  • Mais de 3 dias na semana;
  • Mais de 3 semanas;

Foi visto que apenas 35 % das queixas dos pais entravam no diagnóstico, sendo posteriormente descrito os critérios do ROMA IV.

Critério de Roma IV

  • Bebê menores de 5 meses de vida quando os sintomas iniciam e terminam.
  • Períodos recorrentes e prolongados de choro, irritabilidade ou agitação relatado pelos cuidadores sem causa óbvia e não pode ser prevenido ou resolvido pelos cuidadores.
  • Sem evidência de déficit de ganho de peso, febre ou doença.

Apenas 4 % das crianças com choro excessivo apresentam doença orgânica.

História e exame físico é suficiente para diagnóstico ou solicitação direcionada de exames

APLV pode ser causa da cólica?

Devemos pensar em alergia se os sintomas estão acompanhados de outros sintomas gastrointestinais, tais como vômitos, má aceitação alimentar, diarreia, constipação ou sintomas dermatológicos, especialmente a dermatite atópica.  

Se a suspeita é de alergia alimentar pode ser feita a restrição do alimento (por exemplo: se o bebê está em aleitamento materno exclusivo e tem suspeita de APLV podemos orientar restrição do leite de vaca da dieta materno) por 2-4 semanas. Se melhorou os sintomas pode ser que seja alergia e se não melhorou não é alergia. Se considerou alergia devemos provocar com o alimento para confirmar o diagnóstico.

Fatores de risco de cólica

  • Tabagismo na gestação;
  • Prematuros abaixo de 32 semanas;
  • Neurodesenvolvimento;
  • Fatores psicológicos familiares;
  • Fatores gastrointestinais associados: intolerância ou alergia a proteína do leite de vaca, produção excessiva de gases, intolerância à lactose, DRGE;
  • Microbiota intestinal: a disbiose aumenta produção de gases e distensão abdominal, aumento da inflamação epitelial, aumento da permeabilidade intestinal.

Sintomas

  • Facie de dor;
  • Mãos fechadinhas;
  • Musculatura tensa;
  • Abdômen duro;
  • Choro excessivo.

O cuidador precisa observar o bebê para entender os sintomas.

Tratamento

  • Tratar os fatores psicológicos ou familiares, conversar sobre o choro, acolher a família.
  • Avaliar mudanças da alimentação materna.
  • Corrigir fatores de risco com a microbiota e fatores gastrointestinais.
  • Evite hiperalimentar o bebê.
  • Considerar probiótico para mãe e bebê.
  • Se precisar trocar de fórmula troque apenas 1 vez e com a orientação do seu médico.
  • Orientar interação dos cuidadores com o bebê quando este está bem.
  • Observar o que o bebê gosta.

Posição do bebê que pode ajudar na cólica ou para eliminar gases

  • Cócoras.
  • Bruços (barriga para baixo)
  • Pegar o bebê no colo, contato direto da barriga do bebê com a barriga do cuidador. Ao colocar pele a pele, faça com firmeza na medida certa para que o bebê tenha uma leve compreensão do abdômen.
  • Uso de sling ou posição fetal.
  • Flexionar as coxas do bebê sobre a barriga.
  • Movimente as perninhas do bebê, exemplo, fazer movimento de bicicletinha.

Faça a posição da higiene natural logo cedo. Ao longo do dia, afrouxe a fralda quando perceber o bebê iniciar a evacuação.

Medidas gerais que podem ajudar na cólica

  • Massagem abdominal circular sentido horário ou em forma de interrogação.
  • Dar um banho morno ou aplicar compressas na barriga.
  • Banho morno e calmo em ofurô
  • Reduzir estímulos para o bebê nos momentos de crises e no final do dia. Garanta ambiente calmo, sem excesso de luz, som, barulho ou excesso de pessoas. Podendo ser usada música ambiente suave. Use ruídos brancos nos momentos que achar conveniente.
  • Tentar estabelecer uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades.
  • Tenha rotina de sono e descanso pro bebê e mãe, para que ao final do dia ambos irritados não confunda com cólicas.

Cuidados com a alimentação do bebê que pode ajudar na cólica ou desconforto abdominal

  • Aleitamento materno responsivo (dar leite apenas quando bebê sente fome). Muitas vezes para aliviar o choro os familiares tentam dar mais leite e isso pode piorar o desconforto do bebê.
  • Não utilizar chás, trocar marcas de leite ou usar medicamentos sem a orientação do Pediatra.
  • Seguir sempre as recomendações do Pediatra, que realmente sabe o que é melhor para a saúde do seu bebê.

Dieta materna e a cólica do bebê

Se possível oriento as restrições abaixo de 34 semanas até o bebê completar 1 mês de vida.

  • Sugiro a mãe evitar alimentos que ela saiba que tem alergia ou intolerância ou algum desconforto (distensão ou gases ou outros).Oriento que se possível fazer essa restrição desde a gestação e principalmente nos primeiros meses de nascimento do bebê.

Caso deseje reintroduzir esses alimentos oriento que espere o primeiro mês de vida do bebê e observe se o bebê apresentará sintomas de cólica ou desconforto gastrointestinal nos próximos 7 dias do consumo do alimento. Sugiro testar 1 alimento de cada vez. Consumir um dia e observar o bebe nos próximos 7 dias.

Se o bebê não apresentou sintomas pode consumir o alimento em dias alternados.
Se apresentou alteração no comportamento e ou intestino do bebê, recomendo que volte a testar novamente mais para frente.

A intolerância e sensibilidade alimentares muitas vezes vêm da falta de variedade. Por isso sugiro rodízio alimentar.

Lembre-se de que mesmo com as opções saudáveis do cardápio, o excesso pode ser prejudicial.

  • Sugiro evitar alimentos alergênicos no primeiro mês de vida do bebê

Estes são os grupos de alimentos potencialmente alergênicos:

  1. Lácteos: leite, iogurte, coalhada, creme de leite, leite condensado, queijo, requeijão, doce de leite.
  2. Soja e amendoim.
  3. Ovos
  4. Peixe e frutos do mar
  5. Carne vermelha (individualizar)
  6. Oleaginosas (castanhas de caju, do Pará, de Baru, amêndoas, avelãs, nozes, noz pecã,
  7. Macadâmia, pistache)
  8. Glúten: aveia, trigo (bolo, massa, pão), couscous marroquino, centeio, cevada
  9. Frutas cítricas: acerola, laranja, tangerina, mexerica, kiwi verde e amarelo, caju, limão (nem como tempero), lima, graviola, cupuaçu, abacaxi e maracujá
  • Sugiro evitar alimentos e bebidas concentradas

Esse é um erro que acontece no consumo de algumas frutas na versão de sucos
naturais ou industrializados. Pode ser um erro consumir em excesso.

  1. Suco de laranja ou frutas cítricas;
  2. Suco de uva integral mesmo os orgânicos e sem açúcar;
  3. Suco de melancia e suco de melão: frutas que para muitas pessoas são indigestas.

Quanto aos alimentos concentrados, os que precisam de maior atenção são ketchup e
molho de tomate. Ambos não são indicados inicialmente. Essa regra vale inclusive para
versões caseiras.

  • Sugiro evitar alimentos estimulantes

Estes alimentos são causadores de irritabilidade e/ou cólicas no bebê.

  1. Bebidas cafeinadas: café e chás verde, preto, mate, branco, matchá, oolong, vermelho;
  2. kombuchá: contém chá verde e açúcar;
  3. Cacau, chocolates amargo e ao leite;
  4. Guaraná, energéticos e termogênicos;
  5. Todo tipo de pimenta e pimentões;
  6. Todo tipo de açúcar e xarope de glicose (exemplo, o que contém em açaís prontos não puros);
  7. Qualquer produto que contenha glutamato monossódico;
  8. Bebidas gaseificadas artificialmente, inclusive água com gás e refrigerante;
  9. Bebida alcoólica.
  • Sugiro evitar químicos e industrializados
  1. Adoçantes artificiais: sucralose, acessulfame, aspartame, sacarina, ciclamato;
  2. Farinha branca (pão, massa, bolo, rosca, biscoitos);
  3. Chocolate ao leite ou branco (primeiro item dos ingredientes é açúcar);
  4. Embutidos (presunto de Parma, peito de peru, presunto, apresuntado, mortadela,salsicha, linguiça…);
  5. Tempero pronto / industrializado (ex: Ajinomoto);
  6. Molho de tomate industrializado;
  7. Pasta pronta de alho e/ou cebola;
  8. Molho inglês;
  9. Shoyu de soja;
  10. Margarina e óleos refinados (soja, milho, canola, girassol).
  • Sugiro evitar alimentos formadores de gases
  1. Batata doce;
  2. Brássicas: brócolis, couve–flor, espinafre, repolho, acelga, agrião, couve, rúcula, couve de bruxelas, nabo, rabanete, brotos de feijões;
  3. Leguminosas: feijões, grão de bico, lentilha, soja, amendoim;
  4. Alho e cebola;
  5. Adoçantes naturais polióis: xilitol, eritritol, manitol, maltitol, sorbitol.
  • Avaliar se a mãe teria benefícios de usar probióticos. Ação: equilibrar a microbiota do intestino da mãe.
  • Higienize os alimentos (frutas e verduras) com hipoclorito, água ozonizada, água oxigenada.
  • Não deixe os alimentos crus ou cozidos por mais de 30 minutos fora da geladeira.
  • Coma alimentos e preparações frescas. Após o cozimento e preparo das refeições consuma em até 3 dias ou congele os alimentos.

DISQUEZIA

Acontece em menores de 9 meses caracterizado por:

  • Pelo menos 10 minutos de esforço e choro antes de evacuar ou flatos
  • Sem outros problemas de saúde.

Não tem tratamento. Podemos fazer as mesmas orientações para ajudar na eliminação de gases e evacuar.

Referência:

Ver: https://doi.org/10.1542/peds.2008-0113

Ver também:

Leite materno: conhecendo seus benefícios

Vacinas para crianças: particular ou pública?

Sono das crianças: como ajudar?

Edilene Oliveira - Doctoralia.com.br
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