Quando falamos de polivitamínicos logo pensamos em comprar um pronto e com doses fixas, mas podemos formular o polivitamínico de acordo com a necessidade do bebê ou criança.
As vantagens de manipular o próprio polivitamínico é que seu médico pode escolher as vitaminas e dose que as crianças precisam. É possível também evitar alguns ingredientes que estão presente nos medicamentos prontos de farmácia. Mas sempre devemos individualizar a história da família e qual seria a melhor opção para a suplementação, assim como a experiência do médico e se tem uma farmácia de manipulação de confiança.
VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS
VITAMINA A
A vitamina A é uma vitamina essencial que os humanos devem consumir na forma de retinol (vitamina A pré-formada) ou carotenóide, na forma de pró-vitamina A (precursor da vitamina A) porque não podemos sintetizá-la em nosso corpo.
A deficiência de vitamina A ocorre quando os estoques hepáticos de retinol se esgotam, seja por ingestão insuficiente da dieta ou por aumento das necessidades fisiológicas, ou ambos.
Embora a absorção de vitamina A pré-formada na dieta seja muito eficiente, independentemente do estado nutricional, a absorção de beta-caroteno não é eficiente, uma vez que, no corpo, 12 mcg – caroteno são convertidos em apenas 1 mcg de vitamina A.
A vitamina A ingerida e que não é usada imediatamente pode ser armazenada no corpo, principalmente no fígado.
Vitamina A na gestação
Embora a deficiência de vitamina A não seja considerada uma causa direta de morte materna, a vitamina A desempenha um papel significativo no desenvolvimento do sistema reprodutivo fetal, síntese de hormônios esteróides, desenvolvimento embrionário e manutenção do sistema imunológico.
Níveis adequados de carotenóide e vitamina A durante a gravidez e os períodos pós-parto são extremamente críticos para evitar problemas relacionados à gravidez, como anemia, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, aborto e parto prematuro.
Essas tendências também são problemáticas se a deficiência de vitamina A na prole não for corrigida durante a primeira infância, pois 20-24% da mortalidade infantil por sarampo, diarreia e malária e 3% da mortalidade associada a outras causas infecciosas, podem ser atribuídos à deficiência de vitamina A.
A forma ativa de vitamina A regula mais de 500 genes direta ou indiretamente, ligando-se a fatores de transcrição comuns ou associando-se a receptores de outras proteínas.
O status de vitamina A materno é importante para a implantação e, posteriormente, o desenvolvimento normal do feto e do recém-nascido.
Durante a gravidez, a necessidade nutricional de vitamina A aumenta, especialmente no terceiro trimestre, quando o crescimento fetal é mais rápido.
A vitamina A é transferida através da placenta para o embrião, mesmo em estados de deficiência materna. A deficiência de vitamina A neste período leva a malformações, conhecidas coletivamente como síndrome da deficiência de vitamina A, que se manifesta por deficiências do sistema cardiovascular e nervoso e tecidos menos desenvolvidos, entre outros.
O acúmulo de estoques de vitamina A começa durante o terceiro trimestre, e vários meses de ingestão suficiente após o nascimento são necessários para aumentar os estoques hepáticos.
Além disso, a vitamina A é importante para a maturação pulmonar dentro do útero e, por isso, bebês prematuros apresentam alto risco de displasia broncopulmonar e requerem suplementação de vitamina A.
Vitamina A na amamentação
Após o nascimento, os recém-nascidos geralmente nascem com baixos níveis de vitamina A, embora suas mães geralmente tenham valores dentro dos intervalos recomendados. Esses níveis são corrigidos através da amamentação, uma vez que o leite materno é uma fonte rica em vitamina A.
As necessidades de vitamina A em mulheres que amamentam são logicamente aumentadas.
A cor amarela brilhante do colostro humano reflete o conteúdo rico em carotenóides, em comparação com o leite de transição e maduro.
Além disso, o conteúdo de gordura do leite materno pode ser um veículo útil para melhorar a bioacessibilidade e biodisponibilidade de carotenoides.
A composição de nutrientes do leite materno é influenciada pelos hábitos alimentares da mãe que amamenta, especialmente o consumo de frutas e vegetais, que têm um impacto substancial no conteúdo de carotenóides do leite materno.
Vitamina A para bebês
Se possível iniciamos a suplementação com 7 dias de vida até os 2 anos.
Após 2 anos podemos individualizar a necessidade de manter a suplementação. Se possível dosar com exames laboratoriais principalmente se tem alimentação pobre em boas fontes de vitamina A, diarreia crônica ou gordura nas fezes.
Absorção da vitamina A
Precisamos de lipídeos para absorção de vitaminas lipofílicas como a vitamina A. Se dieta muito restrita em gordura vai ter diminuição da absorção da vitamina A. Apenas 70 % (em condições ótimas) da vitamina A ingerida é absorvida. Absorção é por via hepática e excreção pelas fezes, bílis e renal.
Vitamina A e o DHA
A síntese de DHA é parcialmente regulada pelo receptor de retinol e foi demostrado que a deficiência dietética de vitamina A reduz profundamente a quantidade de DHA no corpo independentemente do nível de ômega 3 da nossa dieta. Inibindo as ações antioxidantes, afetando funções fisiológicas vitais relativas ao crescimento e desenvolvimento.
Vitamina A e o ferro
Vitamina A interage com o ferro, sendo importante para hematopoieses, ou seja, deficiência de vitamina A podem levar a anemia ferropriva.
A vitamina A atua no transporte do ferro para o interior da célula através da ativação genica de proteína transportadora de membrana.
O uso simultâneo de vitamina A parece ser mais eficaz para prevenir a anemia por deficiência de ferro do que se for usado isolado.
Relação da vitamina A com o microbioma e modulação intestinal
A queda da vitamina A causa uma diminuição na proporção relativa de lactobacilus spp e também é associada ao aparecimento de cepas de E. coli.
A queda de vitamina A também aumenta a translocação bacteriana que influencia a gravidade dos distúrbios do epitélio intestinal podendo levar a disbiose e piora imunológica.
A vitamina A pode modular as respostas imunológicas diretamente, comunicando com as células do sistema imunológico, ou indiretamente, interagindo com o microbioma, que por sua vez, pode afetar o metabolismo da vitamina A, gerando um ciclo vicioso.
Funções da vitamina A
- Importante para barreira do intestino e pulmonar;
- Papel na imunidade inata e adaptativa;
- Bom para o cérebro, olhos, e sistema imunológico;
- Crescimento e desenvolvimento;
- Reprodução;
- Ciclo visual;
- Síntese de androgênio, estrogênio, foliculogenese, espermatogênese, desenvolvimento fetal e placentário, regulação da expressão genética (RXR/VDR);
- Transporte de ferro, produção eritrocitária, síntese de proteína, lipídeos e glicose, desintoxicação.
Pode reduzir os valores séricos de vitamina A
- Deficiência de zinco;
- Uso de antiácidos;
- Fatores inflamatórios e infecção.
Alimentos fonte de vitamina A
A vitamina A é obtida diretamente da dieta, sendo a fonte mais rica o fígado dos animais.
Vitamina A pré-formada: ovo, óleo de fígado de bacalhau, leite e cereais fortificados.
Pró-vitamina A: legumes e frutas amarelas, laranjadas, (cenoura, abóbora, batata doce, mamão, melão).
Sintomas de deficiência
- Xeroftamia, cegueira noturna, ceratomalácia;
- Aumento da mortalidade por doenças infecciosas (sarampo e diarreia);
- Alterações na imunidade;
- Ceratinização das papilas gustativas, diminuindo o paladar.
A consequência mais característica da deficiência de vitamina A é a visão prejudicada. A deficiência visual precoce é significativa, especialmente sob condições de luz reduzida. Em casos extremos, devido à deficiência de vitamina A de longo prazo, o epitélio da conjuntiva e da córnea perde sua capacidade de diferenciação, levando à hiperqueratinização do tecido epitelial ocular (xeroftalmia) e, eventualmente, à cegueira total, que pode ser permanente.
Essa circunstância é a causa mais comum de cegueira em países em desenvolvimento.
Modificações epiteliais devido à deficiência de vitamina A afetam diretamente vários sistemas do corpo humano e causam perda de peso.
No sistema respiratório, ocorrem alterações no epitélio broncorrespiratório e o tecido fica mais sujeito a infecções.
A pele pode queratinizar e a epiderme resseca com o aparecimento subsequente de erupções papulares e queratinização das glândulas sudoríparas.
A vitamina A também interfere no metabolismo do ferro. Sua deficiência tem impacto direto nos níveis de ferro por meio do metabolismo e do comprometimento da síntese do heme. Isso é especialmente importante em crianças e mulheres grávidas. Portanto, a deficiência de vitamina A pode causar anemia.
Carotenodermia
Coloração amarelo-alaranjada da pele (planta e palmas), secundário ao consumo de grandes quantidades de carotenoides geradores de vitamina A.
É uma condição benigna e desaparece quando a ingestão de carotenoides diminui. Não é necessário suspender a ingestão devemos avaliar individualmente.
Exames
Dosar retinol (vitamina A sérica).
Normal 1,05 umol/l = 30 ug/dl = 0.3 mg/l
PCR está relacionado com retinol?
Retinol plasmático é inversamente proporcional com os níveis de proteína C reativa, portanto oriento não dosar as vitaminas durante infeção.
Quem precisa de vitamina A?
Todas as pessoas necessitam de vitamina A para proteger sua saúde e visão. Porém, alguns
grupos populacionais, pelas características da fase da vida em que se encontram, necessitam de
atenção especial, pois são mais vulneráveis à deficiência de vitamina A:
- Gestantes;
- Crianças;
- Mulheres que amamentam.
Suplementação do ministério da saúde para zonas de risco
A OMS reconhece que a deficiência de vitamina A afeta aproximadamente 19 milhões de mulheres gravidas e 190 milhões de crianças em idade pré-escolar.
A pesquisa nacional demográfica e saúde da criança e da mulher, traçou o perfil das crianças menores de 5 anos e da população feminina em idade fértil no brasil e apontou que o problema se estende para todas as regiões brasileiras.
- 6-11 meses: 100.000 UI 1 dose
- 12-59 meses: 200.000 UI uma dose a cada 6 meses
- Pós-parto imediato 200.000 UI 1 vez (retirado em 2016)
A criança pode ser individualizada e tomar a dose de vitamina A de acordo com a sua necessidade, avaliando se a mãe foi suplementada na gestação e amamentação e observar a dieta e até mesmo exames se necessário. Considerando mais fisiológico suplementar uma dose baixa diária.
Recomendações de vitaminas e minerais DRIs
DICAS DE SUPLEMENTAÇÃO
Se possível suplemente vitamina D com a vitamina A.
Vitamina lipossolúveis são as que armazena, portanto, é fácil ajustar.
Usar Palmitato de retinol. O betacaroteno precisa ser metabolizado pelo corpo.
Observe se a dose por gota ou por cápsula esta correta.
Se possível manipular em veículo oleoso ou ingerir com alimentos que contenha gordura para melhor absorção da vitamina A.
VITAMINA D
A vitamina D é um pró-hormônio solúvel em gordura difícil de obter por alimentação, sendo que a principal fonte é o sol.
Além do metabolismo ósseo, vem sendo estudada como moduladora de doenças alérgicas, doenças cardíacas, asma, entre outras.
A sintese dérmica após a radiação UVB é responsavel por 90 % da reposição.
O melhor horário para repor vitamina D é entre 10-15 horas e orientamos evitar este horário devido risco de câncer de pele.
A exposição solar direta, por 10-15 minutos em condições favoráveis, pode gerar 10-20.000 UI de colecalciferol.
O colecalciferol (vitamina D3) é de origem animal e ergocalciferol (vitamina D2) de plantas e fórmulas lácteas.
Sem a vitamina D apenas 10-15 % do cálcio dietético é absorvido.
Fonte alimentar de vitamina D
Peixes oleosos, como sardinha, arenque, atum, cavala e óleo de figado de bacalhau, gemas de ovos, cogumelos, shitake, carnes de figado ou orgãos.
Absorção pelos alimentos é baixa em torno de 10-20 %.
Função da vitamina D
- Regular a absorção de cálcio e fósforo;
- Manter o cérebro da criança se desenvolvendo e funcionando perfeitamente;
- Fortificar ossos, dentes e músculos;
- Atua praticamente em todas as células do corpo, sendo fundamental para desenvolvimento ósseo, funcionamento do sistema imunológico, adequação do ciclo sono-vigília.
GESTAÇÃO
- Atua no sistema imunológico para criar tolerância da decídua para acomodar o feto.
- Atua no metabolismo do cálcio para a formação mineral adequada.
- Papel importante na fertilidade, implantação de embriões e manutenção da gravidez.
- Os efeitos da vitamina D não são mais baseados apenas na homeostase do cálcio e na saúde óssea, mas foram estendidos para incluir seu papel como imunomodulador no sistema reprodutor feminino.
- A deficiência de vitamina D está associada a um risco aumentado de desenvolver pré-eclâmpsia, trabalho de parto prematuro, diabetes gestacional, pequeno para a idade gestacional, baixo peso ao nascer, um aumento da taxa de cesariana e infertilidade.
Deficiência de vitamina D pode estar associada a:
- Baixa imunidade;
- Cansaço excessivo;
- Depressão e esquizofrenia;
- Doença cardiovascular e pressão arterial elevada;
- Diabetes melitos tipo 1;
- Asma;
- Dermatite atópica;
- Alergia alimentar;
- Doença inflamatória intestinal e artrite reumatoide;
- Variadas neoplasias (mama, próstata, pâncreas, colón).
Exames e valores normais
- 25-hidroxi-vitamina D3: meia vida de 2-3 semanas.
- 1,25 vitamina D (forma ativa): tem a meia vida curta de 4 horas.
A academia americana de pediatria considera níveis suficiente de vitamina D valores entre 21-100 ng/ml.
Fatores de risco para vitamina d baixa
Suplementação profilática de vitamina D
A academia americana de pediatria (2018) recomenta suplementação para:
- Bebês amamentados devem receber 400 ui começando nos primeiros dias de vida, a menos que o bebê seja desmamado com pelo menos 1 litro de fórmula infantil.
- Bebês não amamentados e crianças mais velhas que ingerem menos de 1000 ml/dia de fórmula fortificada com vitamina D ou leite devem receber mínimo de 400 UI/dia.
A sociedade brasileira de pediatria (2018) recomenda dose profilática de 400 UI de vitamina D ao dia a partir da primeira semana de vida até os 12 meses e de 600 UI/dia dos 12-24 meses, inclusive para lactentes em aleitamento exclusivo, independente da região do país.
Para prematuro a recomendação é iniciar quando peso for superior a 1500 g e houver tolerância plena a nutrição enteral.
Crianças e adolescentes com fatores de risco, recomenda-se dose mínima de 600 UI com monitoramento periódico e reajuste quando necessário.
Usamos a vitamina D3 (colecalciferol) e vitamina D2 (ergocalciferol) para os vegano
Dicas para suplementação da vitamina D
- Pode inserir todas as vitaminas lipossolúveis juntas;
- Gotas ou cápsulas em meio oleoso ou ingerir com fonte de gordura;
- Tomar pela manhã para melhor absorção;
- Podemos individualizar a dose e valor mínimo desejado da vitamina de acordo com a história clínica do paciente
VITAMINA E
É uma vitamina lipossolúvel e antioxidante mais importante na célula.
A melhor fonte é o leite materno.
Deficiência
- Anemia hemolítica;
- Displasia broncopulmonar;
- Disfunções neurológicas;
- Aumento da mortalidade neonatal;
Fonte
- Leite materno;
- Óleo e semente de girassol;
- Nuts;
- Azeite de oliva;
- Ovo, manteiga, óleos de sementes, cereais, amendoim e soja.
Funções da vitamina E
- A vitamina E age protegendo os ácidos grados polinsaturado. Alguns ômegas 3 utiliza a vitamina E para evitar que os ácidos graxos se oxidem.
- Vinculada com a reprodução.
- Protege os eritrócitos de sofrer hemólise, estando relacionada com anemia.
A vitamina C faz reciclagem dos produtos de oxidação da vitamina E, voltando a função original do tocoferol.
Absorção da vitamina E
A biodisponibilidade depende do teor de gordura ingerido.
Absorvida no trato gastrointestinal (20-80%) e tem metabolismo hepático.
O TCM aumenta sua absorção.
Armazenamento em ordem decrescente: tecido adiposo, suprarrenais, testículos, hipófise, plaquetas.
Não se acumulam no fígado em doses tóxicas.
Interações da vitamina E
- Vitamina k: compartilham a mesma via de metabolização e excreção.
- Retinol (vitamina A): O alfa-tocoferol é necessário para a ação do retinol.
- Vitamina C: é necessária para regenerar o alfa tocoferol.
- Selênio: o selênio e o alfa-tocoferol agem em sinergia em várias reações químicas.
- Ácidos grados polinsaturados: Diminuem a absorção de vitamina E (associações com ômega 3).
A vitamina e é necessária para a conversão da vitamina B12 na sua forma ativa.
Exames
Valor de referência entre 5-20 mg/l.
Quando suspeitar da deficiência de vitamina E
- Síndrome de má absorção de gorduras, fibrose cística, celíacos, intestino curto, síndrome do intestino irritado, pancreatite.
- Prematuros.
- Anemias hemolíticas congênita-talassemias.
- Desnutrição grave.
Sinais e sintomas
- Anemia hemolítica.
- Neuropatia progressiva e retinopatia nas 2primeiras décadas de vida.
- Bebê hipotônico.
Em 23 % das crianças com fibrose cística recém diagnosticada e 14% em crianças mais velhas.
É rara a toxicidade.
Quem suplementar?
- Fibrose cística;
- Prematuros;
- individualizar outros pacientes.
Dose recomendada
- Crianças entre 4-6 mg (6-9 UI);
- Adultos de 150-600 UI;
Como suplementar?
- D-alfa tocoferol- forma natural;
- DL alfa tocoferol- forma sintética
- Mix de tocoferóis- mistura de 8 homólogos
Dicas para suplementação de vitamina E
A vitamina E não deve ser suplementada sem a vitamina c.
Pode ser suplementada com as outras vitaminas lipossolúveis (A D, K).
Em veiculo oleoso ou consumir com uma fonte de gordura.
VITAMINAS DO COMPLEXO B
● B1 – tiamina
● B2 – riboflavina
● B3 – niacina
● B5 – ácido pantotênico
● B6 – piridoxina
● B7 – biotina
● B9 – folato
● B12 – cobalamina
São micronutrientes essenciais para toda a vida celular.
As vitaminas do complexo B jamais devem ser suplementadas isoladamente.
As vitaminas do complexo B na dieta são fornecidas por plantas e produtos animais em grandes quantidades, embora uma variedade de condições possa aumentar a demanda e causar deficiências em vitaminas B.
A desnutrição, exercícios, estresse, abuso de drogas, consumo de álcool e gravidez aumentam a demanda celular por vitaminas B.
Além da aquisição de vitaminas B na dieta, a microbiota intestinal é agora reconhecida como uma fonte potencial de vitaminas B. Numerosas espécies residentes na microbiota intestinal as sintetizam.
Apesar do uso de vitaminas do complexo B, nem sempre será possível uma boa absorção e síntese desses micronutrientes pela microbiota intestinal.
Portanto, é importante lembrarmos que situações de disbiose intestinal, onde o paciente apresenta alterações de microbioma, interferem na absorção de vitaminas B. Nessa situação, a fisiologia do aparelho gastrointestinal também é afetada.
É essencial encontrar o controle desses micronutrientes para fornecer ao organismo o aporte nutricional adequado.
VITAMINA B12
A vitamina B12 é uma vitamina solúvel em água encontrada naturalmente em carnes e produtos animais.
A vitamina B12 é sintetizada por certas bactérias no trato gastrointestinal dos animais e então absorvida pelo animal hospedeiro.
Essa vitamina geralmente precisa ser suplementada em pacientes veganos, porém estamos vendo cada vez mais a deficiência dessa vitamina em pacientes não veganos.
Ela é fundamental para adequada produção das hemácias, multiplicação celular e síntese de DNA.
Medicamentos crônicos que interfere na absorção
IBP (ex: omeprazol), antagonista H2 e anticonceptivos orais entre outros.
FATORES DE RISCO PARA DEFICIÊNCIA DE B12
A deficiência é geralmente causada pela má absorção de vitamina B12, embora a inadequação da dieta seja comum em idosos, veganos ou ovolactovegetarianos com dietas pobres.
- Vegetarianos estritos;
- Acloridria;
- Falta de FI (gastrectomia, anemia perniciosa);
- Alta concentração de bactérias e ou parasitas (jejuno);
- Ressecção ou doença ileal;
- Bariátrica por by-pass.
MAIOR DEMANDA
- Criança
- Gestante
- Maior demanda intelectual e estresse
- Maior oscilação da glicemia.
PRINCIPAIS FONTES
Os alimentos com alto teor de vitamina B12 incluem: fígado, carne bovina e cordeiro, frango, ovos. Outros: leite, cereais, aves, frutos do mar, rins e coração.
Não existem formas bioativas naturais de vitamina B12 de fontes vegetais.
Alguns alimentos vegetais contêm vitamina B12 adicionada e outros, por exemplo, algas marinhas e cogumelos, contêm análogos de vitamina B12 que são inativos em humanos.
Pensava-se que a deficiência de vitamina B12 levava muitos anos para se desenvolver e ocorria apenas em vegetarianos estritos ou com anemia perniciosa. Pesquisas mais recentes sugeriram que há implicações na doença associadas à deficiência subclínica de B12, que se desenvolve mais comumente devido à má absorção ou inadequação alimentar.
Embora os humanos tenham uma rica fauna microbiana, presente principalmente no intestino grosso, o sistema de captação de B12 humana está localizado no intestino delgado. Os humanos, portanto, não adquirem B12 de suas bactérias entéricas e têm que contar com B12 presente em sua dieta.
SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA
Os sintomas da deficiência de B12 variam de anemia megaloblástica, problemas neurológicos, sintomas cardiovasculares, acidúria metilmalônica, etc.
Os estudos relatam consistentemente um risco 2-4x maior de defeito do tubo neural com baixo nível de vitamina B12. Esses estudos foram realizados em uma variedade de grupos populacionais, incluindo aqueles que são expostos a alimentos fortificados com folato, bem como em populações não fortificadas.
Fraqueza, apatia, irritabilidade, tontura, falta de memória, confusão mental, formigamento nas mãos e pés, parestesia simétrica, perda de peso, constipação, lesões na boca, escotomas e diminuição da acuidade visual, sonolência, hiper-reflexia, clônus, convulsões, psicose, deterioração mental, demência, hipotonia, tremor, letargia e coma, perda de apetite, emagrecimento.
CONSEQUÊNCIA DA DEFICIÊNCIA
- Anemia megaloblástica;
- Deterioração neurológica com atraso de desenvolvimento.
EXAMES
- Cobalamina sérica/B12: Ideal manter B12 acima de 490 mcg.
- HOLOTRANSCOBALAMINA ou holo TC avalia a forma ativa da B12. Não temos muito disponível para pedido.
- Ácido metilmalônico: elevado na deficiência de B12 e normal na deficiência de ácido fólico.
- Homocisteína: manter abaixo de 8 (na gestação de 4-8). Esta aumentada na deficiência de b12, ácido fólico, e B6.
A combinação de folato elevado e baixo status de cobalamina também foi associada a um aumento da probabilidade de diabetes gestacional, aumento da resistência à insulina e status pequenos para a idade gestacional na prole.
VITAMINA B12 E A GESTAÇÃO
As necessidades de cobalamina aumentam durante a gravidez e a lactação para atender às demandas da mãe, do feto e do bebê.
O status de cobalamina materna (cobalamina total sérica) está diretamente relacionado ao status de cobalamina no recém-nascido.
A deficiência de cobalamina durante a gravidez, lactação e início da vida é um problema de saúde pública. As recomendações de ingestão para mulheres grávidas e lactantes precisam ser revistas de acordo com os desenvolvimentos recentes, com atenção especial para mulheres que começam a gravidez com estoques esgotados de cobalamina.
A deficiência materna de cobalamina tem sido relacionada a um risco aumentado de aborto espontâneo precoce e recorrente, nascimento pré-termo e baixo peso ao nascer.
As concentrações de cobalamina pré-concepção > 258 pmol/L (349 pg/ml) foram associadas a um risco 60% reduzido de parto prematuro.
Defeitos graves de desenvolvimento do sistema nervoso central estão associados à deficiência materna de cobalamina, embora a evidência para um papel causal do baixo status de cobalamina em defeito do tubo neural seja moderada em comparação com a de baixo folato.
Pesquisadores na Irlanda relataram que a cobalamina plasmática < 185 pmol/L aumentou o risco de defeito do tubo neural em 2,5-3,0x, após ajuste para o status de folato. De acordo com esse estudo, as concentrações de cobalamina preconcepção de > 221 pmol/L (299 pg/ml) estão provavelmente associadas a um baixo risco de defeito do tubo neural.
A deficiência de vitamina B12 tem implicações importantes para a saúde materna, por exemplo, aumentando o risco de diabetes gestacional e obesidade.
Para o embrião e o bebê, o baixo status de B12 materno está associado à desaceleração da taxa de crescimento embrionário, aumentando o risco de baixo peso ao nascer, de nascimento prematuro e de defeitos do tubo neural.
Devido as alterações fisiológicas da gestação, tanto a cobalamina sérica quanto os marcadores metabólicos plasmáticos de homocisteína total (tHcy) e ácido metilmalônico (MMA) são reduzidos em grávidas em comparação com mulheres que nunca engravidaram, complicando assim a avaliação desses biomarcadores na gravidez.
A diminuição observada na concentração de cobalamina sérica durante a gravidez normal é seguida por um aumento substancial pós-parto.
A cobalamina sérica diminui durante a gravidez, mas retorna às concentrações pré-concepção após o parto.
O declínio da cobalamina sérica levantou preocupações sobre o esgotamento da cobalamina materna durante a gravidez. Acompanhando o declínio do status de cobalamina no final da gravidez, o MMA sérico inicialmente cai durante o início e no meio da gravidez normal, mas aumenta gradualmente no final da gravidez para concentrações mais altas do que no pré-parto ou início da gravidez.
SUPLEMENTAÇÃO DE B12/COBALAMINA NA GESTANTE
A suplementação de cobalamina durante a gravidez e a lactação pode prevenir a deficiência materna e a depleção em bebês. O estado de B12 da mãe também pode ser um determinante importante da saúde posterior da criança, conforme mostrado no Pune Maternal Nutrition Study em que B12 baixo e ácido fólico alto na mãe foram fatores de risco para o desenvolvimento de obesidade e resistência à insulina na criança aos 6 anos de idade.
A concentração de cobalamina sérica na 18ª semana de gravidez foi um preditor significativo das concentrações de cobalamina sérica e tHcy e MMA plasmática na mãe durante a gravidez e lactação e nos bebês aos 6 meses de vida. Uma concentração de cobalamina sérica < 394 pmol/l (534 pg/ml) na 18 semanas de gravidez foi associada para deficiência de cobalamina infantil até 6 meses de vida.
A ingestão recente de cobalamina pela mãe é a principal fonte e determinante da cobalamina do leite materno. A cobalamina do leite é o principal determinante do status da cobalamina em bebês amamentados exclusivamente e está fortemente correlacionada com a cobalamina no sangue materno e a ingestão materna.
O leite humano é uma fonte crítica de vitamina B12 para bebês exclusivamente amamentados. Bebês nascidos de mães com deficiência de vitamina B12 comprometeram os estoques hepáticos ao nascer e consomem leite com uma concentração mais baixa de vitamina B12, colocando-os em maior risco de deficiência de vitamina B-12 e suas consequências neurológicas e de desenvolvimento.
A suplementação oral de cobalamina até 6 semanas após o parto levou a um aumento de 2x na média da cobalamina do leite materno e nos marcadores do status da cobalamina nos bebês em comparação com o grupo placebo.
O status de cobalamina infantil diminuiu quando a suplementação materna foi interrompida. Concluímos que o status de B12 materno durante a gravidez é um determinante essencial do status de B12 no nascimento e na infância. Além disso, não há dúvida de que bebês amamentados têm níveis de B12 mais baixos do que bebês não amamentados.
Evidências recentes sugerem que o suprimento inadequado de vitamina B12 durante a gravidez e a primeira infância pode ter efeitos duradouros no crescimento infantil e no desenvolvimento do cérebro, que podem ser irreversíveis.
A deficiência de vitamina B12 é um grande problema de saúde pública e está associada a um risco aumentado de resultados adversos para a saúde infantil. Até o momento, estudos observacionais demonstraram associações entre o status de vitamina B12 ou ingestão alimentar e resultados cognitivos em crianças. A importância do status adequado de vitamina B-12, particularmente durante a gravidez e a primeira infância, não pode ser superestimada à luz do papel da vitamina B12 na mielinização neural, desenvolvimento do cérebro e crescimento fetal e infantil.
Uma alta concentração de cobalamina sérica no início da gravidez pode ser benéfica para a fase anabólica da gravidez e para o desenvolvimento fetal. Para garantir um status adequado de cobalamina no lactente durante os primeiros 6 meses de vida, recomendamos uma concentração de cobalamina sérica materna acima de 394 pmol/L (534 pg/ml) na 18ª semana de gravidez.
Níveis crescentes de vitamina B12 foram associados à diminuição do risco de parto prematuro. Assim, a deficiência de B12 na gravidez foi associada a um risco 21% maior de parto prematuro.
MÃE VEGETARIANA E AMAMENTANDO
Avaliar a B12 materna. Se está normal não precisa dar B12 para o bebê até o sexto mês de vida.
Se B12 baixa fazemos a suplementação do bebê
Se bebê em fórmula infantil: teoricamente não precisa de B12 inicialmente.
VITAMINA B12 NAS CRIANÇAS
Quanto menor a criança melhor a absorção e menor a dose.
Recomendo não suplementar a B12 sem antes avaliar o ferro. Se eu administro a B12 e B9 pode acontecer um consumo do ferro.
Sempre que possível colocar junto B12 e B9.
Metilcobalamina é dependente do zinco por isso é bom dosar o zinco.
Se tem B12 muito alta devemos avaliar a alimentação da criança como por exemplo os suplementos, achocolatados, excesso de leite e derivados.
Em um estudo em ratos em 2012 mostrou que níveis bons de B12 parece melhorar a absorção de DHA.
Pessoas com tendência a acne é melhor começar com dose bem pequena e ir aumentando aos poucos.
Forma profilática a partir de 6 meses: 2,5 mcg.
Tratamento: de 20 a 200 mcg. Dependendo da idade e deficiência pode usar até 1000-2000 mcg dia.
Eu sempre inicio com a dose mais baixa e vou subindo de acordo com os exames e alimentação.
Referências:
Doi:10.1080/10408398.2016.1160362
https://doi.org/10.3390/nu13051703
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_condutas_suplementacao_vitamina_a.pdf
https://doi.org/10.1515/jpem-2017-0391